As recomendações de calagem e adubação se limitam à camada de solo de 0 – 20 cm. Talvez, porque várias culturas têm a maior parte de seu desenvolvimento radicular nesta profundidade e maior aporte de nutrientes disponíveis . Abaixo, nas camadas de 20 – 40 e 30 – 60 cm encontram-se as maiores deficiências, ocasionadas pela deficiência de nutrientes. O cálcio (Ca) é encontrado com baixos teores. O alumínio trocável (Al) é encontrado com altos teores, se
constituindo num elemento tóxico para as plantas, limitando o desenvolvimento radicular. Pesquisas realizadas com a finalidade de estudar o desenvolvimento de sistemas radiculares (sem aplicação de gesso agrícola), na camada superficial e em profundidade, constataram que o maior desenvolvimento foi na camada de 0 – 20 cm (60%), por causa do melhor nível de fertilidade proporcionado pela calagem e aplicação de nutrientes. Na camada de 40 – 60 cm, a concentração de raízes não chegou a 1%.
O cálcio é pouco móvel no solo, por isto que os efeitos da calagem não se observam nas camadas mais profundas. As raízes do café, pelo desenvolvimento radicular, procuram cálcio nas camadas mais profundas. O problema é que estas raízes não encontram o nutriente cálcio e, sendo assim, o desenvolvimento e produção do cafeeiro são prejudicados. O cálcio não chega lá. O cálcio é fundamental para promover a neutralização da acidez do solo, favorecer o maior desenvolvimento do sistema radicular das plantas em extensão e profundidade, aumentar a atividade dos microorganismos do solo, aumentar a disponibilidade dos nutrientes, como o molibdênio (Mo). O cálcio é importante para a resistências das plantas à presença de elementos tóxicos, ou seja, alumínio (Al), cobre (Cu) e manganês (Mn). O cálcio existe tanto na forma de cátion trocável como parte insolúvel dos minerais do solo. As formas disponíveis estão adsorvidas nos coloides do solo. Pelo processo de troca de cátions, o cálcio passa para a solução do solo onde é absorvido pelas plantas.
O alumínio (Al), quando em altas concentrações, é tóxico para as plantas. Está presente, também, nas camadas mais profundas onde o calcário não consegue chegar. Então, podemos ter altos teores de alumínio e baixos teores de cálcio nas camadas mais profundas. Advém disto, o problemas das plantas em buscar água e nutrientes, pois as raízes não chegam a alcançá-los. Qualquer veranico faz com que as plantas venham a sofrer mais, não resistindo à seca.
Quando se faz um aporte de gesso agrícola consegue-se bons resultados. Pesquisas mostraram que, quando o gesso agrícola foi aplicado no solo, a concentração de raízes aumentou nas camadas subsuperficiais e mais profundas chegando a 22% e 12%, respectivamente. Houve uma melhor distribuição do sistema radicular ao longo do perfil do solo.
O gesso agrícola é um subproduto da produção de ácido fosfórico, contendo 32% de CaO e 19% de enxofre (S). O gesso agrícola se dissocia em Ca²+ e SO4²-. Embora possua CaO na sua composição, o gesso não é um corretivo do solo, nem pode ser utilizado como um produto para neutralizar a acidez. A vantagem do gesso agrícola é que ele possui o ânion SO4 (sulfato) que confere uma maior mobilidade ao cálcio, transportando-o para as camadas mais profundas. O SO4 se liga ao alumínio formando o sulfato de alumínio que é insolúvel e, portanto, não absorvido pelas plantas. O íon SO4é facilmente perdido por lixiviação. Desta maneira, o gesso agrícola minimiza os efeitos tóxicos do alumínio para as plantas. Além disto, o gesso fornece cálcio e enxofre para os vegetais. A indicação de uso de gesso agrícola deve ser feita quando uma destas condições seja satisfeita:
1. Teor de cálcio (Ca) seja menor ou igual a 0,4 cmolc/dm³;
2. Teor de alumínio maior que 0,5 cmolc/dm³;
3. saturação por alumínio (m%) maior que 20%.
Atenção:se os dados da análise do solo estão em mmolc/dm³, nos itens 1 e 2 basta multiplicar os valores por 10.
Para saber se há necessidade de aplicar gesso, o agricultor deve providenciar nas seguintes etapas:
A. Retirar amostras de solo em diferentes profundidades, ou seja, amostra média da camada 20 – 40 cm e da camada de 30 – 60 cm.
B. Não misturar as amostras destas camadas. Serão enviadas duas amostras médias em separado ou independentes.
A aplicação do gesso agrícola deve ser feita, de preferência, em dias chuvosos para facilitar a dissolução e poder atingir as camadas subsuperficiais. A recomendação de gesso deve atender o que está na análise do solo. Aplicações de gesso, sem controle, pode acarretar aplicações excessivas que se constituirão num problema de desequilíbrio no solo: perdas de potássio (K) e de magnésio (Mg) por lixiviação. Outra forma de utilização do gesso é na correção de solos sódicos. O sódio (Na) é pouco retido no solo, sendo substituído facilmente pelo cálcio. Em virtude disto, há formação de sulfato de sódio que é lixiviado. Em solos arenosos, de baixa CTC, a aplicação de gesso deve ser feita com cuidado, pois poderá provocar uma movimentação de cátions para as camadas muito mais profundas, longe do alcance das raízes. Um controle, a partir de análises de solo, deve ser feito frequentemente para acompanhar este movimento de bases trocáveis.